Como estamos estranhos. Estamos cheios de opinião e cheios de teorias.
Estamos com tanta razão. Como a razão está em voga ultimamente. Ou não. Não faz pouco tempo que a razão entrou na moda, mas acredito que esta “moda” nunca foi tão popular e tão desejada como nos dias de hoje.
Todos queremos ter razão, e mais to que tê-la, desejamos profundamente que as outras pessoas reconheçam que estamos com a razão. Isso é tão sério, que quando alguém discorda de um Sr. (Sra.) Cheio da Razão, essa pessoa que discordou passa a ser vista como uma pedra de tropeço. Como um inimigo a ser combatido e abatido. Afinal, quem é o fulano para vir me contestar? Eu sei do que estou falando, eu fui a fundo, eu busquei, eu li e eu estudei. Sei de onde vem minha razão. Não venha me desafiar sem argumentos contundentes. rs Não importa a fonte, o importante é que eu tenho razão. O que eu acredito, o que eu penso é o certo, é o importante e não me aborreça com o seu pseudo ponto de vista.
Estamos em uma época de extremos. Há uma guerra não declarada pela razão. Em todos os lugares existe um intenso debate, discussões acirradas para ganhar o direito de ser reconhecido como o Sr. ou Sra. Dono (a) da razão. Queremos todo o tempo ouvir o seguinte elogio: “Você está, ou ainda, estava certo. Você tem, ou ainda, tinha razão.” E como ouvir isso enche o nosso peito. Como ficamos cheios de nós mesmo, ficamos contentes, satisfeitos, felizes e orgulhosos, porque no final Nós estávamos com a razão.
Como o desejo de ter razão, de estar certo, de ser admirado e seguido está enraizado no coração do ser humano. Como damos importância a isso. E como estamos cegos por isso. Quantas vezes eu me irrito e já me irritei por ser contrariada, por ser contestada, e porque alguém questiona a minha razão. Eu era uma dessas pessoas que adorava um debate e uma boa discussão; eu sempre gostei de vencer uma conversa e ouvir: “Você está com a razão!” Eu me sentia especial, inteligente, SUPERIOR por isso. Eu era cheia de mim.
Mas faz algum tempo, comecei a andar com um amigo especial. E esse amigo é especial de verdade, não sou só eu que acho isso. Ele é incrível, ele é o cara mais inteligente que eu conheço, a inteligência dele é incomum. Eu tenho certeza que ele é superdotado, gênio mesmo. Mas mesmo sendo extraordinário, ele nunca, em nenhuma das nossas conversas me fez engolir guela abaixo, sem água e sem nada, a razão dele.
Engraçado, que ele é a pessoa mais correta e digna que ja conheci em toda a minha vida, e mesmo assim, ele sempre me respeitou, mesmo quando eu dava um Stand Up de asneiras de graça, rs. Em nenhum momento, ele me calou para eu ouvir toda a linha de raciocínio complexo e bem estruturado e com todos os fundamentos que ele tinha para me convencer. Sempre enquanto eu falava, eu recebia o silêncio. Silêncio esse que não era desinteresse, tenho certeza absoluta que ele presta e prestava atenção em tudo o que eu estava falando, mas silêncio de respeito em quando amamos alguém nós o ouvimos. Ele sempre soube e sabe me ouvir.
Ele nunca me expos nada do que ele pensava sem que eu não quisesse saber, sem que eu demonstrasse interesse para que ele compartilhasse suas coisas comigo. Nunca foi um Sr. Cheio de Razão em nossas conversas, ao contrário de mim, que sempre tenho infinitas razões quando conversamos. E quando eu me calo e peço a opinião dele, ou que ele fale, ele em momento algum é soberbo em querer me diminuir para que seja engrandecido em sua razão. Ele fala, e simplesmente a razão repousa em suas palavras, sem esforço, sem briga, sem força. De uma maneira natural, ela se acomoda a ele, e quando ele fala faz todo sentido sem a necessidade de grandes discursos, grandes filosofias ou estruturas complexas. Ele não disputa a razão, ele a é.
E por esses dias, me peguei observando-o e me constrangi. Na verdade, me envergonhei e comecei a me questionar por que queria tanto ter razão. E ao refletir sobre essas questões, cheguei ao ponto: De que me serve ter razão? O que eu quero com isso, ou para que eu a quero tanto? Pensei, se ele que é tão melhor que eu, tão mais sábio que eu, não faz isso, não se engrandece quando está comigo, ao contrário, quer caminhar e viver comigo, por que estou fazendo isso? Por que estou lutando essa guerra, por que estou disputando algo que na verdade, não me pertence? E entendi, que eu não preciso ter razão. 🙂
Eu não a quero mais. Não a buscarei mais. Eu vou me preocupar em ser mais parecida com ele, em aprender mais dele para que as coisas estejam no lugar certo. E ai quem sabe, ao me parecer com ele, a razão, (da qual não terei mais necessidade e apego), também repouse, não porque seja eu, mas por vê-lo refletido em mim.
Certa de que ainda há muito para caminhar,